Artigo por: Carlos Alberto Junior - Repórter da CBN é agredido por manifestantes: Pedro Durán estava dentro da sede do Sindicato dos Metalúrgicos quando um dos manifestantes pegou o celular dele e o empurrou. Ele teve que ser escoltado para fora do prédio pelos integrantes do sindicato e por políticos que acompanham o ex-presidente.
Ônibus
da caravana de Lula foi alvejado por dois tiros de garrucha: A perícia do
Instituto de Criminalística do Paraná afirmou que dois disparos de uma arma de
calibre 320 atingiram um dos ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná.
Noticiários como esses tem feito
parte do cotidiano dos brasileiros nos últimos meses, dias, horas. Há uma
verdadeira onde de embates intelectuais, teóricos, discursos e até físicos,
provocando distúrbios e violência das diversas formas.
Desde a redemocratização do
Brasil, onde tivemos a abertura política e a luta pela liberdade de fala e de
expressão, depois de um doloroso regime civil e militar é que os brasileiros
têm gozado de muitos direitos e garantias sociais e civis ao longo dos últimos
anos. Foram dias e noites de luta, de tramas sociais que, em muitos casos,
ficaram marcados na memória de muitos patriotas; outros já não tiveram a mesma
sorte.
Passado a transição do regime
para um governo civil, dia após dia o brasileiro, através de lutas sociais vem
buscando garantias sociais e direitos civis e políticos, a fim de cimentar a
democracia brasileira. Portanto, é importante calcular o preço e o valor que
isso tem atribuído a nós ao longo do tempo.
Prova disso são as redes sociais,
que tem dado voz aos sujeitos das mais variadas classes sociais e políticas,
que tem colocado, por exemplo, governos autoritários abaixo no oriente médio,
provando sua capacidade e sua importância diante de um cenário cotidiano
tecnológico que vive hoje uma grande parte dos países, inclusive no ocidente.
Diante disso, façamos a seguinte
reflexão: até que ponto o direito de fala conquistado pelo brasileiro ao longo
da História tem sido importante para o avanço da sociedade enquanto sujeito
democrático? Até que ponto essa liberdade discursiva tem contribuído para um
país melhor, frente ao combate das mazelas sociais? Como eu estou agindo com
essa “arma” diante da conjuntura que passa o Brasil hoje?
São questões, pontos cruciais que
devemos refletir sobre o avanço das garantias e liberdades dadas ao brasileiro
nos últimos tempos. Esse texto se propõe a tratar de um grande mal que tem
assolado o país nos últimos tempos. Denomino-a de a tríade do atraso:
Política-Violência- Intolerância.
Acima das querelas politicas, dos
partidos sem ideologias, da corrupção como um carro desgovernado, e de um povo
que não gosta de política (uma grande parcela), a não ser quando estão em jogo
os interesses próprios, temos o maior problema de todos, o que tem incendiado
as ruas, as redes e a vida de nós brasileiros, que tem segregado amigos, irmãos,
pessoas de ideologias partidárias diversas: A INTOLERÂNCIA em todas as
instâncias do social, principalmente política!"
Pensando em 3.2.1....
“Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. "Michel Foucault"
“Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. "Michel Foucault"
É
justamente esse ato de pensar diferente do que se vê, de perceber diferente, de
se colocar diferente, num outro lado do "campo" de uma partida que
tem feito sangrar esse país é que colocamos a grande questão. Ah como é difícil
e doloroso se opor, ou como dizia Certeau, ser "ordinário". Ordinário
no sentido de se colocar como produtor de uma História e um discurso a
contrapelo. As bordas em vez de transbordarem, estão provocando enrijecimento
de tal coisa, de forma a se esmagarem em prol de um querer ser.
A
guerra dos discursos tem assombrado nosso país nos últimos tempos, a
intolerância tem nos levado ao enfraquecimento da democracia, e de que, acima
de tudo, o respeito pelo outro só é válido quando compartilhado das mesmas
inquietações.
Essas
palavras não querem atingir a seguidores de partidos políticos os mais
diversos, mas denunciar discursos de ódio e raiva que tem sido divulgados num
embate que nunca terá fim, até que o respeito se instale na vida das pessoas.
O
discurso, principalmente politico do outro tem sido um discurso estrangeiro,
ameaçador, pois pode levar a perda daquilo que foi construído como a forma de
ser da pessoa ou do grupo que vive em um determinado espaço.
A
xenofobia tem sido um dos maiores problemas do nosso tempo. O mundo
contemporâneo, mesmo nas sociedades mais civilizadas tem convivido com ondas
crescentes de manifestações de intolerância, de racismo, de brigas políticas,
et. É esse cenário que está passando na sua timeline
a toda hora. Prós, contra, coxinhas e metralhas, são esses os estereótipos que
tem delineado e segregado a população brasileira.
A
xenofobia política está intimamente ligada aos conceitos que nos foram
ensinados, que aprendemos, que conhecemos acerca de um outro agrupamento
político. Os preconceitos, estereótipos, os estigmas, os sentidos, interferem
no contato discursivo que estabelecemos com os outros, ditos e vistos como
estrangeiros.
Essa
prática, assim como outras expressões de preconceito, intolerância, de rejeição
e aversão só podem ser combatidas através de práticas educativas, desde aquelas
iniciais. É inegável, no entanto, que grande parte da educação dos sentidos, do
corpo e da mente se faz através dos meios de comunicação em massa, que tem tido
uma enorme responsabilidade pela epidemia de intolerância.
Parece-nos
que nos esquecemos da visão que os gregos tinham, onde pensavam a política como
lócus privilegiado da educação da cidade, e, portanto, da educação e formação
do cidadão. A desqualificação sistemática da política, mantra dos meios de
comunicação monopolizados, com a contribuição inestimável de grande parte da
classe política vem nos fazendo esquecer que nós humanos somos seres políticos
por definição, que todas as soluções de problemas humanos, e por outro lado, a
sua emergência é de conteúdo político.
Os
profissionais da política muitas vezes parecem esquecer que suas práticas e
seus discursos são educativos no bom ou no mau sentido. Pode-se educar no
exercício da vida pública para a tolerância, o respeito, a solidariedade, a
aceitação da diferença e de concepções políticas; ou pode-se, como vemos
algumas figuras na politica brasileira danosas e envenenadas de ódio educar
para a intolerância, a incitação do ódio, rejeição e aversão do discurso do
outro, do que pensa diferente.
São
dessas questões que queria colocar a vocês, não como uma receita ou bula,
tampouco como verdade, mas apenas suposições diante de um cenário que se
desenrola numa trama social sangrenta. Nossa visão acerca do outro é a de um
animal faminto, onde o outro é sempre uma ameaça; onde o outro deve ser apenas
uma folha de papel em branco, onde possamos escrever nela nosso querer, nossos
objetivos, nossos desejos, anulando o outro.
Na
verdade, podemos descobrir o outro em nós mesmos, e perceber que não somos
sujeitos homogêneos, e radicalmente diferente de tudo que não somos. Eu é um
outro! Mas, cada um dos outros é eu
também, sujeito como eu.
É
dessa tomada da palavra dos brasileiros, das diversas vozes e dos discursos que
ferem, que maltratam, que segregam, que se agridem que queria refletir nessas
poucas palavras. Paremo-nos para refletir sobre as palavras lançadas, sobre os
embates travados. Muitas vezes as palavras devem ter feito grandes cortes,
diversas furadas e produzido vários coágulos de sangue em muitas pessoas.
Carlos Alberto Junior
Graduado
em História pela Universidade Estadual do Piauí, Pós-graduado em História do
Brasil pela Faculdade Entre Rios, e Professor Tutor do Curso de História pela
Universidade Federal do Piauí.
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